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Archive for the ‘Urbanismo’ Category


A página do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio reúne notícias sobre os processos de remoção e análises sobre os megaeventos e seus impactos na cidade. O movimento lançou o Jornal do Comitê cuja proposta é ser um espaço para divulgar e apoiar àqueles que lutam contra as violações dos direitos humanos e questionam o tão propalado legado que Copa e Olimpíadas trarão para a cidade.

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A 11ª Câmara Cível manteve a liminar da juíza Roseli Nalim, que impede o funcionamento do IED. O Instituto Europeu de Design havia recorrido mais uma vez na tentativa de reverter esta sentença.

A 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro já havia proibido o início das atividades do Instituto Europeu de Design, no bairro da Urca, atendendo ao pedido do Ministério Público que alegou falta de estudos de impacto ambiental, de vizinhança e viário.

A lei 5076/09, de autoria do mandato Eliomar Coelho, tombou o prédio do Cassino da Urca e a Amurada da Urca. A lei estabelece procedimentos para a definição ou alteração de uso do imóvel, onde funcionava a extinta TV Tupi. O que suscitou a elaboração da proposta de tombamento foi o diálogo com a AMOUR – Associação de Moradores da Urca – que teme a perda de qualidade de vida, caos e congestionamentos se o IED funcionar no bairro.

A AMOUR moveu uma ação pública por ato de improbidade, solicitando a anulação da cessão do imóvel, por falta de licitação e de publicidade, e a suspensão da obra. A ação foi impetrada pela 7ª Promotoria de Justiça da Cidadania, do Ministério Público. Na época, a 3ª Vara de Fazenda Pública não acatou o pedido de interrupção da reforma do prédio mas foi a primeira a determinar que fosse vetado o início das atividades do IED quando a reforma fosse concluída.

Ainda não foi julgado recurso impetrado pelo município contra a liminar da juíza Roseli Nalim.

Veja fotos do antigo Cassino da Urca na seção Rio Antigo

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A intenção do governo federal – proprietário de grande parte dos terrenos da Zona Portuária, era destinar uma parte significativa destes espaços para construção de moradorias populares. Relatora da ONU para questões de moradia adequada, a urbanista Raquel Rolnik fez esta afirmação em palestra, no IAB, na semana passada, quando analisou e fez duras críticas ao projeto Porto Maravilha.

A proposta inicial do governo federal era criar uma empresa pública compartilhada para administrar o projeto. Uma mudança de rumos aconteceu quando o atual prefeito assumiu e adotou a gestão do Porto Maravilha pela Cedurp – uma empresa municipal. Segundo Raquel Rolnik, em seguida foi realizada uma licitação, de acordo com modelo desenvolvido pela OAS, que definiu as companhias que vão executar as obras. Venceu a OAS, associada à Carioca Engenharia e Odebretch, que executará um projeto criado pela própria OAS e legitimado pela prefeitura.

Na palestra, Raquel Rolnik assinalou que o modelo em vigor no projeto Porto Maravilha está baseado na lógica financeira. Não foi arquitetado sob o ponto de vista do que seria melhor urbanisticamente ou do que seria melhor para a cidade, mas sim sob aquele que viabilizaria o negócio.

Enquanto é remunerado pela prefeitura, o consórcio que cuidará do projeto ganhará também para fazer as obras. E ganhará ainda uma vez mais a partir da valorização dos terrenos, impulsionada pela especulação imobiliária que perpassa todo este processo.

A urbanista chamou atenção para outro ponto obscuro. Depois que forem resolvidas as questões fundiárias relativas aos terrenos, a Caixa Econômica Federal será sócia na incorporação dos futuros edifícios, a fim de viabilizar tal operação. Mas, se algo sair dos trilhos nesta lógica financeira, os prejuízos serão cobertos por recursos públicos municipais.

Outra questão grave apontada é a subavaliação dos terrenos da União. Raquel Rolnik afirmou que terrenos federais que estão sendo repassados à prefeitura, para que esta os coloque no mercado, estariam sendo subavaliados. A diferença na avaliação seria dez vezes menor que os reais valores destes terrenos.

Na contramão, um prédio que está sendo avaliado para desapropriação, onde ocorre a ocupação Maria Conga, teria cotação muito acima dos terrenos que interessam ao projeto de revitalização do Porto.

Essas distorções estariam provocando problemas de ordem moral e legal. A assinatura de laudos com subavaliações pelos funcionários envolvidos neste processo poderia incriminá-los, e também o órgão ao qual estão subordinados, porque se constitui ilegalidade passível de fiscalização pelo Tribunal de Contas de Município.

Por fim, Raquel Rolnik comparou as mudanças urbanísticas implementadas na área do Porto e no entorno da Sala São Paulo, na capital paulista. Lá como aqui, na opinião da urbanista, as duas zonas em fase de revitalização são tratadas como um vazio populacional e um vazio de história e cultura. Para Raquel, o processo induz à conclusão que a estratégia é o arrasamento de ambas as áreas para um recomeço em bases palatáveis ao mercado.

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A AMAHOR, Associação de Moradores e Amigos do Horto, continua coletando assinaturas para um abaixo-assinado em favor do projeto de lei 161/2009 – do qual nosso mandato é co-autor – que tramita na Câmara de Vereadores e caracteriza determinadas áreas como de Especial Interesse Social (AEIS). A proposta prevê a regularização fundiária da comunidade do Horto.

“Como é sabido por todos, os procedimentos para a Regularização Fundiária já se encontram em curso e estão sendo realizados pela Secretaria de Patrimônio da União – SPU, em parceria com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ e conta também com a participação do Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro – ITERJ. A comunidade pleiteia a regularização através da CUEM ou da CDRU, pois estes são os instrumentos legítimos que nos auxiliarão a conter o avanço da especulação imobiliária que se utiliza da mídia e dos discursos preconceituosos para humilhar e criminalizar os moradores do Horto”, afirma o texto do abaixo-assinado.

Segundo a AMAHOR, os direitos da comunidade são respaldados pela Constituição Federal, pelo Estatuto da Cidade e pela Lei Orgânica do Município. Por isso, a entidade afirma estar disposta a lutar incansavelmente, pois outras áreas da União estão sendo regularizadas de forma tranqüila, “sem contestação da mídia ou da elite a qual esta mídia representa”. “A regularização da comunidade do Horto somente é contestada porque está localizada em área nobre da zona sul e esbarra nos interesses de expansão do Instituto Jardim Botânico que em nome da pesquisa está entregando áreas importantes do Jardim Botânico para a iniciativa privada envolvida com eventos culturais”, conclui o abaixo-assinado.

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Artigo sobre megaeventos publicado na edição de terça-feira, dia 8/03, no jornal O Globo, escrito em parceria com o economista Luiz Mário Behnken, da Rede de Mega Eventos Esportivos (Reme Brasil).

Modelo retrógrado

Eliomar Coelho e Luiz Mário

O Rio de Janeiro vive hoje em êxtase diante da perspectiva de sediar megaeventos esportivos. Ainda este ano a cidade vai receber os Jogos Mundiais Militares. Em 2013 será a vez da Copa das Confederações, como prévia da Copa do Mundo, programada para o ano seguinte no Maracanã; e para fechar o calendário esportivo, as Olímpiadas vão reunir milhares de atletas do mundo inteiro, em 2016.

Entretanto, a euforia não deve ser empecilho para o aprendizado com os erros do passado. Não podemos nos permitir, mais uma vez, ficar com a história da conquista de uma terrível medalha, a da desigualdade, como aconteceu nos Jogos Pan/2007.

Pesquisamos até que ponto o evento alterou as condições sociais e o espaço urbano no Rio de Janeiro. A partir da análise dos gastos estatais e da identificação dos favorecidos e dos desfavorecidos pelas políticas públicas, a investigação revelou o aprofundamento da desigualdade social e urbana via transferência de recursos públicos para o domínio do capital privado.

A concentração de investimentos na Barra da Tijuca, um bairro nobre da Zona Oeste, não foi justificada por argumentos técnicos e nem por uma escolha aleatória. De fato, a cidade segue a marcha histórica da valorização imobiliária, através das praias, na continuidade dicotômica núcleo/periferia, Zona Sul/Zona Norte, rico/pobre.

No Pan/2007 mais de 36% dos gastos foram destinados às instalações esportivas que pouco atenuaram o desequilíbrio social. Apenas 8,5% do total foram para obras de urbanização, muitas dessas associadas às instalações esportivas.

É preciso destacar ainda a inexistência de qualquer legado na mobilidade urbana. Os gastos com a organização do próprio evento atingiram quase 20% do total dos recursos públicos empreendidos. Não há benefício social visível nesses gastos, a não ser a subjetiva satisfação de assistir a um espetáculo em sua cidade.

No total da fatura, quase 80% das despesas estatais com o Pan/2007 serviram de subsídio para atividade econômica privada.

A atuação do Estado transferiu R$ 2,8 bilhões de recursos públicos para poucos. Enfim, a experiência do Pan/2007 é elucidativa. O megaevento sacrificou ações governamentais em nome de uma promessa de tornar a cidade competitiva.

Ou a sociedade revê esse modelo ou os megaeventos aprofundarão a desigualdade social. Os poderes Legislativo e Judiciário, assim como a mídia e a própria sociedade, precisam fiscalizar a organização desses eventos.

Em tempo: Eduardo Cunha, envolvido no escândalo de Furnas, cuidará das licitações da Copa e das Olímpiadas. Saiba mais.

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Sim, nossa cidade maravilhosa faz 446 anos. Mas quero aproveitar a passagem desta data para incitar a reflexão, a análise e, quiçá, o debate. A escolha do Rio de Janeiro como sede das Olímpiadas provocou uma sucessão de investimentos e obras. Nesta sanha empreiteira, destaca-se o projeto Porto Maravilha.

Moradores e comerciantes da Zona Portuária realizaram mais uma reunião no último sábado. A ideia é consolidar uma estratégia em defesa dos interesses da população da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, que hoje coleciona perguntas ainda sem respostas:

1. Há estudo de impacto ambiental para os projetos previstos?
2. Os comerciantes próximos à Praça Jornal do Comércio estão entregues à própria sorte por falta de estudo elaborado: o que fazer?
3. Como fica a situação desses comerciantes que não estão ganhando nem para pagar o aluguel?
4. Aumento de impostos: moradores e comerciantes terão condições de pagar os impostos que virão?
5. Saneamento básico: os novos prédios terão água, luz e esgoto dentro de suas necessidades e dos parâmetros atuais. E na Gamboa, Saúde e Santo Cristo?
6. Distribuição de energia elétrica pelo sub-solo: a população local terá dinheiro para fazer sua entrada subterrânea?
7. Como ficam as vagas nas escolas, elas atenderão às necessidades desta população e a dos novos moradores?
8. Como ficará o trânsito nas ruas da região?
9. E os estacionamentos?
10. Como ficará a vida na Zona Portuária após a chamada revitalização?

No post abaixo, uma análise do projeto de revitalização do Porto…

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Para ampliar o debate, divulgo o excelente artigo sobre a revitalização do Porto escrito pelo arquiteto e urbanista Roberto Anderson, um dos colaboradores do movimento da Zona Portuária.

Incongruências do projeto
“(…) Há um descompasso entre a imagem da recuperação da Área Portuária assimilada pelos cariocas e aquilo que realmente poderá vir a ser executado. É muito possível que a população tenha a esperança de um dia voltar a usufruir da orla da Baía de Guanabara, passeando pelo atual cais do Porto. Mas isto não está garantido. Dependerá de como a companhia Docas venha a tratar a área dos primeiros armazéns do Porto: liberá-los para uso cultural ou alfandegá-los, ou seja, transformá-los em espaços de trânsito restrito a cargas, passageiros ou pessoal que lida com estas atividades. Esta última opção poderá prevalecer caso a companhia venha a construir os novos píeres (fingers) para navios de passageiros entre os armazéns 2 e 3 do cais do Porto e não na altura do Armazém 5 como havia sido anteriormente planejado.

A população pode estar pensando que os demais armazéns e galpões serão
recuperados e utilizados para atividades culturais, residências, escritórios, etc. Mas isto é pouco provável, uma vez que a maioria não é protegida. Eles são passíveis de serem demolidos para dar lugar a edificações de 30, 40 e 50 andares. A legislação urbanística para a Área Portuária foi recentemente votada, de forma apressada e com pouca participação popular nas discussões. Há armazéns com belas fachadas e sistemas construtivos interessantes, mas tudo pode ir ao chão. É parte da memória da cidade que se irá se perder. Além disso, a aprovação desses gabaritos altíssimos irá esconder as encostas que sempre marcaram o perfil da Área Portuária.

Atualmente moram ali aproximadamente 22 mil pessoas. Eles resistiram a diversos processos de esvaziamento da região e agora correm o risco de serem emparedados por uma massa de edifícios altos destinados a um público de maior poder aquisitivo. Mas não precisaria ser assim. Em Nova Iorque, por exemplo, os armazéns do Meat Market District passaram a abrigar galerias, boates, ateliês e residências, e são eles que marcam o diferencial daquele lugar. (…)”. Leia o artigo “Porto Maravilha: novo nome, antigas ideias” na íntegra.

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Publico, abaixo, artigo do geográfo Jorge Borges, assessor do nosso mandato, que vem acompanhando de perto o processo de remoção em Vila Harmonia e faz uma oportuna análise da situação.

“Na última sexta-feira, funcionários da prefeitura conseguiram chegar ao último foco de resistência dentro da Vila Harmonia. Entraram no terreno da Dona Sueli, onde moram cerca de 10 famílias – todas descendentes diretas de sua avó, que já reside na região há muitas e muitas décadas. Trata-se de uma grande vitória sobre a resistência popular. Por que esse fato é tão simbólico e significativo?

Todas as comunidades do Recreio dos Bandeirantes, que estão sendo atacadas nos últimos meses, são vitimadas sob o argumento da necessidade da obra do corredor Transoeste, que nada mais é do que a duplicação da Avenida das Américas com a instalação de uma via segregada para ônibus expressos. Entretanto, a área da Vila Harmonia, além de não ser necessária para a referida obra, era a que melhores condições reunia para um processo definitivo de regularização fundiária e urbanística, que poderia se tornar exemplo e contribuir, fundamentalmente, para desconstruir o discurso imperioso de que não há lugar ali para as comunidades.

Não bastassem esses dados, vale ressaltar que a obra da Transoeste é uma das que mais possui indícios de irregularidades, desde o seu processo licitatório até o início da instalação dos canteiros de obras, passando pelo processo de licenciamento ambiental, junto ao Inea (Instituto Estadual do Ambiente). Está tudo suficientemente documentado e pronto para se transformar em peça judicial, matéria jornalística ou qualquer outra forma de denúncia.

Na Vila Harmonia, ainda residem famílias descendentes diretas dos primeiros moradores fixos do bairro que, como nos ensina a própria toponímia, foi, durante séculos, passagem para as caravanas que subiriam as serras gerais em busca das riquezas da eterna colônia brasiliana. Desde o início do século XX, essas famílias vivem e sobrevivem por ali e esse fato é amplamente conhecido dos administradores públicos. Eles sabem que todas essas informações, reunidas e apuradas, podem levar a embaraços e atrasos em seus planos perante os compromissos internacionais assumidos pela municipalidade em relação aos preparativos para a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016, além dos interesses da incorporação imobiliária.

Infelizmente, os movimentos sociais mais organizados, as forças populares do Rio de Janeiro não perceberam isso a tempo. Em suas desorientadas e fragmentadas ações, não constituiram, por exemplo, uma rede suficientemente potente para apoiar aquelas comunidades e impor a devida pressão aos órgãos públicos competentes, tal como ocorreu na comunidade Canal do Anil em 2007.

Com a queda da Vila Harmonia (e também da Restinga, Notre Dame e Vila Recreio II), verifica-se uma saturação da capacidade de ação dos defensores públicos do Núcleo de Terras e Habitação. São apenas seis defensores para apoiar juridicamente centenas de comunidades, dezenas delas ameaçadas pela prefeitura, com requintes de crueldade. Além disso, é patente uma certa letargia das organizações comunitárias para unirem-se em torno de um projeto comum que se contraponha aos planos da prefeitura para os próximos vinte anos. Essa dispersão deixa margem para negociações parciais, individualismos, falta de solidariedade e, finalmente, um desfecho como este que assistimos agora.

Há que se registrar, também, a ainda descoordenada atuação dos poucos parlamentares envolvidos diretamente no apoio às resistências populares e nas denúncias contra as arbitrariedades. Não é possível entender, por exemplo, como não se estruturou, até agora, frentes parlamentares e comissões sérias, nos três níveis, para congregar e atuar de forma mais incisiva na apuração e encaminhamento de denúncias sobre os crimes cometidos pelos representantes da prefeitura. Espaços como esses, dentro do parlamento, poderiam funcionar também como núcleos de pressão política direta sobre o próprio Judiciário e o Ministério Público.

O momento atual é de uma reavaliação profunda das táticas e estratégias adotadas pela resistência até agora. Os esforços para saber “o que vem por aí” são importantes, mas menos urgentes do que fazermos um grande inventário de potencial político e jurídico que ainda nos resta para organizar nossa atuação e, se possível, uma grande ofensiva.”

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A Vila Harmonia amanheceu cercada de caminhões de mudanças e retroescavadeiras, sob o comando de funcionários da prefeitura do Rio. Após algumas semanas de reassentamentos negociados nas comunidades do Campinho e do Metrô/Mangueira, a prefeitura acionou seu lobby junto ao Tribunal de Justiça do Rio.

A Vila Harmonia é ameaçada pelo Corredor Transoeste, uma obra rodoviária de mais de 50Km de extensão que visa conectar a Barra da Tijuca até Santa Cruz, passando pelo Recreio dos Bandeirantes e Guaratiba. A obra, orçada em cerca de R$1,2 bilhão, teve seu EIA/RIMA (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) executado em 1999 e, apesar do engavetamento do projeto por mais de 10 anos, o Inea (Instituto Estadual do Ambiente) concedeu nova licença de instalação em 2010, sem qualquer complementação ou análise do novo projeto básico ou do traçado extendido.

Trata-se de um flagrante crime ambiental, contra os direitos humanos e uma afronta à dignidade das famílias ali residentes.

Os representantes da subprefeitura da Barra da Tijuca chegaram, hoje, com a Guarda Municipal, ameaçando derrubar casas, mesmo aquelas onde há moradores, caso seja necessário. Eles aguardam a suspensão da liminar que vem protegendo as famílias resistentes.

Os desembargadores parecem estar se rendendo à pressão da prefeitura. Nenhum dos argumentos dos defensores públicos é ouvido; nenhuma outra possibilidade de negociação é oferecida.

A comunidade Vila Harmonia abriga famílias que residem há mais de cem anos na região do Recreio dos Bandeirantes. Chegaram lá, provavelmente, como sobreviventes de famílias escravas, ainda no início do século XX, e possuem documentação que comprova isso. Existem dois terreiros de Candomblé que foram marcados para remoção sumária, sem sequer ser oferecida qualquer indenização sobre as benfeitorias.

Urge uma rápida mobilização em apoio à Vila Harmonia. Urge uma sensibilização aos desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para que, pelo menos, o princípio da razoabilidade do processo administrativo seja respeitado.

Que esta mensagem chegue ao Ministério das Cidades e às entidades de mediação de conflitos urbanos. Que esta mensagem sensibilize o governo federal – um dos principais financiadores dos projetos tocados pela prefeitura que têm motivado esta política de remoções.

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Inimigo inexistente

Jardim Botânico se defende de inimigo inexistente

por Julio Feferman

“O artigo “O Jardim sob ataque” de Liszt Vieria, presidente do Instituto Jardim Botânico, publicado na seção “Opinião” de O Globo (19 de fevereiro) evidencia a contradição no que tange a posição do instituto em relação a questão fundiária da comunidade do Horto e revela conceituação ambiental equivocada.

Liszt Vieira é ambíguo ao afirmar que está aberto ao diálogo, ao mesmo tempo que contrapõe a comunidade a valores ambientais. Para tal, além do título alarmista – de onde, afinal, viriam os “ataques” ao Jardim? – se utiliza de declaração infeliz de Burle Max que peca pela falta de compreensão do contexto histórico-urbano de ocupação da área e da consequente alteração do bioma local.

É notório que a extensão do Horto foi ocupada (e alterada) desde o século XVI, primeiro por engenhos de cana e depois por fazendas de café, atividades de alto impacto ambiental. Informações históricas encontram-se amplamente documentadas e detalhadas no site do Museu do Horto (www.museudohorto.org.br). Isto significa, naturalmente, que o Horto sempre foi constituído pelo entrelace do semi-urbano com a área limítrofe da Floresta da Tijuca, que o circunda.

Um mapa de uso e cobertura do solo, do Instituto Pereira Passos, designa o arboreto como área de “Floresta Alterada” e o Horto como área “Urbana não consolidada”. Curiosamente, o mapa também designa como área “Urbana não consolidada” um polígono de centenas de edificações na área “formal” do Jardim Botânico, compreendendo desde a Rua Sara Vilela até a Rua Corcovado.

Por sua designação urbana não consolidada e, principalmente, analisando a ocupação histórica por fazendas e suas senzalas, depois moradias, depois institutos e empresas, o ambiente do Horto há séculos não representa área de interesse científico. A mata que ali um dia existiu foi há muito transformada. É fato que a própria Floresta da Tijuca não mais constitui floresta primária, aquela que nunca foi tocada pela ação do homem, embora sofra ameaça constante pela expansão de condomínios e casas de alto padrão.

Liszt Vieria atribui a supostos “talhões florestais” o “grande interesse botânico” na área. Em nome da boa informação, talhões florestais são áreas de floresta implantada, voltada para o suprimento industrial, prática utilizada na indústria de celulose, como exemplo. Não se sabe, portanto, a que se refere Liszt Vieira, mas certamente não haveria qualquer valor botânico nos remanescentes da ocupação que ali se deu através dos séculos, exceto, talvez, pelo plantio direto. Nem por isso, claramente, deve-se descuidar do meio-ambiente. Neste contexto, entretanto, devemos nos integrar a uma conceituação mais contemporânea de ambientalismo, que contempla também o homem e suas necessidades, harmonizando a preservação à ética e consciência social, e não contrapondo um ao outro, como pretende Liszt Vieira. Para deixar bem claro, não mais se trata de uma luta entre o meio-ambiente e o homem, e sim da integração e convívio sustentável dos dois, a que poderíamos qualificar de uma visão sócio-ambiental.

À outra tese sustentada por Liszt Vieira, que diz que a expansão do arboreto é necessária para o plantio de “milhares de espécies ameaçadas”, cabe alguns esclarecimentos para que o público tenha acesso à informação correta. O cultivo de espécies ameaçadas não constitui necessariamente em ação preservacionista. Não se salva uma espécie da extinção cultivando exemplares em local controlado. Seria o mesmo que dizer que estaríamos salvando os tigres de bengala (há muito extintos) ao manter um indivíduo em cativeiro. Populações de plantas e animais são preservados apenas quando mantemos a integridade de seus habitats naturais e o número populacional acima de determinado limite mínimo, proporcionando-lhes a oportunidade de se reproduzirem naturalmente. Há alguns experimentos controlados, como o projeto Tamar de preservação de tartarugas marinhas, que introduzem tartarugas criadas em cativeiro às populações naturais. Mesmo estes projetos são revestidos de muitos cuidados, pois cientistas não têm o domínio de todas as variáveis ecológicas para se reverter um processo de extinção através da introdução de indivíduos no meio-ambiente, sem possíveis efeitos colaterais. Seguro, sim, é a preservação de habitats, implementação de corredores ecológicos e controle do impacto antropocêntrico, entre outras medidas.

Caso o Jardim Botânico tenha a intenção de agir como viveiro para subsequente plantio em áreas como o Cerrado, a Floresta Amazônica ou os reminiscentes da Mata Atlântica, seria mais apropriado implementar a infraestrutura distante da cidade, onde poderá contar com terra suficiente para o cultivo na escala de suas pretensões. De outra forma, me parece uma justificação pífia para o deslocamento de moradores que residem na área do Horto a não menos de 50 anos.

As declarações de Litsz Vieira não contribuem para o esclarecimento das intenções do instituto. Expandir a área de visitação do parque, removendo moradores históricos, cuja posse está resguardada por ampla legislação nacional e internacional, me parece um equívoco. Também não faz sentido a argumentação de que os moradores estariam impedindo o avanço científico. Ora, estufas e outras infraestruturas para a pesquisa científica podem ser instaurados em locais diversos, não sendo necessário deslocar moradores. Talvez o instituto poderia até investir na manutenção de sua infraestrutura existente e na melhoria das condições de pesquisa.

Quanto ao seu posicionamento de “dialogador”, Liszt Vieira poderia se mostrar mais aberto ao diálogo e mais receptivo à proposta da SPU/UFRJ, que representa uma ampla oportunidade de política sócio-ambiental de vanguarda e que certamente servirá como exemplo de conciliação social e preservação ambiental para o Brasil e para o mundo. Esperamos caminhar sempre na direção de uma sociedade esclarecida e igualitária. Liszt Vieira deveria reconhecer esta oportunidade histórica, baixar suas armas e realmente se abrir a uma conversa transparente e sincera.”

Julio Feferman
Biólogo

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