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Posts Tagged ‘Cais do Porto’

Sim, nossa cidade maravilhosa faz 446 anos. Mas quero aproveitar a passagem desta data para incitar a reflexão, a análise e, quiçá, o debate. A escolha do Rio de Janeiro como sede das Olímpiadas provocou uma sucessão de investimentos e obras. Nesta sanha empreiteira, destaca-se o projeto Porto Maravilha.

Moradores e comerciantes da Zona Portuária realizaram mais uma reunião no último sábado. A ideia é consolidar uma estratégia em defesa dos interesses da população da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, que hoje coleciona perguntas ainda sem respostas:

1. Há estudo de impacto ambiental para os projetos previstos?
2. Os comerciantes próximos à Praça Jornal do Comércio estão entregues à própria sorte por falta de estudo elaborado: o que fazer?
3. Como fica a situação desses comerciantes que não estão ganhando nem para pagar o aluguel?
4. Aumento de impostos: moradores e comerciantes terão condições de pagar os impostos que virão?
5. Saneamento básico: os novos prédios terão água, luz e esgoto dentro de suas necessidades e dos parâmetros atuais. E na Gamboa, Saúde e Santo Cristo?
6. Distribuição de energia elétrica pelo sub-solo: a população local terá dinheiro para fazer sua entrada subterrânea?
7. Como ficam as vagas nas escolas, elas atenderão às necessidades desta população e a dos novos moradores?
8. Como ficará o trânsito nas ruas da região?
9. E os estacionamentos?
10. Como ficará a vida na Zona Portuária após a chamada revitalização?

No post abaixo, uma análise do projeto de revitalização do Porto…

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Como mencionei em post anterior, existe uma proposta de utilização da estrutura da Perimetral para a instalação de um monotrilho que ligaria o Aeroporto Santos Dumont ao Aeroporto Internacional. Surgiu em workshop coletivo em uma das turmas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FAU/UFRJ – e foi desenvolvida pelos alunos Pedro Toledo, Sérgio Curriça e Vitor Damasceno, com orientação dos professores Ivete Farah, Alexandre Pessoa, Cristóvão Duarte, e Guilherme Lassance.

Se você ficou curioso, veja aqui foto da Perimetral hoje e um desenho do projeto do monotrilho. Observe e tire suas conclusões…


Mais detalhes no blog Nova Perimetral.Rio

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A Caixa Econômica Federal e o Ministério do Trabalho já formalizaram, oficialmente, parceria com a prefeitura do Rio para liberação R$ 3,5 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para investimentos no projeto Porto Maravilha. Parte deste montante cobrirá as despesas com a demolição da Perimetral. Orçado em R$ 1,2 bilhão, este bota abaixo está previsto para 2013. Quando se cogitou a ideia, muita gente deu de ombros com total descrença. Mas, a julgar pelo ímpeto do governo federal e dos empreendedores interessados no projeto de revitalização do Cais do Porto, parece que o plano sairá do papel.

Opine. Você acha que o viaduto da Perimetral deve ser demolido? Ou você acha que sua estrutura deve servir para abrigar um monorail ou monotrilho que ligaria o Aeroporto Santos Dumont ao Aeroporto Internacional, como propõe Cristovão Duarte, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ? Mais detalhes sobre esta proposta no post abaixo.

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Abaixo, no Rio Antigo, você vê o Cais do Porto em 1920, sem a Perimetral. Se a proposta da prefeitura é demolir o viaduto, há quem tenha ideias urbanísticas bem diferentes.

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ, Cristovão Duarte pensa em outro destino para o viaduto: ao invés de implodir a Perimetral, aproveitar sua estrutura para instalar, ali, um monorail ou monotrilho. O custo para derrubar a construção está orçado em 1,2 bilhão. Os trilhos suspensos ligariam os aeroportos Santos Dumont e Galeão, viabilizando a Linha 5 do Metrô.

Em entrevista ao boletim Olhar Virtual, da UFRJ, Cristovão Duarte explica sua proposta. Confira aqui.

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Rio Antigo, toda sexta!

Na foto de Marc Ferrez, de 1890, vê-se um pedaço do Cais do Porto, o Arsenal da Marinha e o Mosteiro de São Bento, construído em 1652. O pequeno barco está a caminho do cais improvisado, provavelmente, para a chegada de Dom Pedro II quando ele regressou de sua última viagem à Europa. Mas, a esta altura, a área do Cais do Porto já havia sofrido um grande processo de urbanização. Clique aqui e veja a transformação desde de 1608.

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Entrevista: Porto Maravilha

Antônio Agenor Barbosa mora no Morro da Conceição, um dos bairros que será atingido pelo projeto Porto Maravilha. Arquiteto e Urbanista, Mestre em Urbanismo pela UFRJ e professor do Departamento de História e Teoria da FAU – UFRJ, Agenor respondeu às perguntas que formulei sobre a revitalização da Zona Portuária. Hoje, o mandato realiza um debate sobre os impactos do polêmico projeto, às 18h, no Espaço Cultural CEDIM Heloneida Studart, Rua Camerino, 51, Saúde.

1) Como morador do Morro da Conceição, como avalia o projeto Porto Maravilha?

Primeiro quero dizer que sou totalmente a favor da idéia de revitalização da área portuária, inclusive no que se refere a algumas propostas de intervenção no Morro da Conceição e nas suas adjacências. Entretanto, creio que os métodos, os conceitos e as estratégias usadas pela atual Prefeitura são equivocadas e, sobretudo, precipitadas em grande parte. Cabe dizer que o próprio termo e/ou conceito largamente empregado que é o da “revitalização” da área portuária é arbitrário, em alguns casos. Revitalizar significa trazer de volta a vitalidade. Mas, em muitas das áreas da região portuária – no Morro da Conceição, inclusive – este conceito simplesmente não se aplica, pois são áreas com uma imensa, resistente e qualitativa vitalidade urbana. Só não vê quem não quer!

Isto posto, também creio que estamos vivendo um momento em que não podemos mais aceitar passivamente as imposições do poder público sem que estas se revertam em melhorias reais de condições de vida para a população residente aqui na região. E o Projeto Porto Maravilha, com este nome mais ligado a uma peça publicitária e do Marketing do que a uma parte a ser reestruturada de uma cidade tão complexa como é o Rio de Janeiro, não me parece que atenderá a boa parcela destes habitantes que aqui residem. Eu mesmo já pude conversar pessoalmente com alguns diretores e técnicos do Instituto Pereira Passos (IPP) e constatei que os principais executivos que estão à frente do órgão (IPP) não têm, infelizmente, nenhuma visão de cidade, do urbano e das suas múltiplas e complexas dinâmicas geopolíticas, territoriais e, sobretudo, sociais.

Vi que estes Executivos só têm certezas em relação às conseqüências da implantação deste Projeto Porto Maravilha na região. São homens que não têm dúvidas e que acham que o Porto Maravilha, por si só, vai trazer de volta para o Rio de Janeiro o protagonismo perdido para São Paulo nas últimas três décadas, por exemplo. Mas eu, que sou um professor, quanto mais leio e estudo mais eu duvido do determinismo das coisas, sobretudo no campo do Urbanismo.

Também sei que estes executivos que estão à frente do IPP são profissionais muito bem preparados por terem feito MBA nos Estados Unidos em Administração e/ou em Marketing. Mas eles não sabem, ou não querem ver que a Cidade (que é, ou deveria ser pelo menos, Urbs + Civitas a um só tempo) é para todos e não apenas para alguns privilegiados. Creio que estes executivos do IPP desconhecem e ignoram o Rio nas suas facetas multiculturais até caleidoscópicas. Eles têm uma visão de mercado determinista, homogênea e utilitária da cidade. A visão de cidade que já me apresentaram nas exposições deste Projeto Porto Maravilha é reduzida à sua dimensão econômica (que julgo importante, mas incapaz de trazer à luz outras compreensões mais sutis).

Acho até que eles podem estar vendendo algo que não conhecem. Vendem um Rio virtual, pois o Rio real é muito “barra pesada” para eles.

Até a cultura é vista sob a ótica econômica, e só! São executivos e profissionais bem sucedidos do mercado financeiro e das grandes consultorias de negócios que operam internacionalmente. São pessoas com este perfil que estão à frente da condução e da viabilização do Projeto Porto Maravilha.

Assim, creio que a cidade vista sob esta ótica – como a do próprio Projeto Porto Maravilha – promete ser idílica para os poucos privilegiados que terão esta oportunidade após a chegada (tardia) do Estado. Alguns que aqui residem e esperaram tanto pela chegada do Grande Irmão e agora não vão poder nem participar da festa de inauguração do Porto Maravilha pois vão ser expulsos já nos primeiros preparativos para a festa.

Eu mesmo, que sou um professor repito, talvez até possa vir a participar da festa de inauguração deste Porto Maravilha, mas na condição de ex-morador do Morro da Conceição, e talvez só venha a ser convidado em função da minha rede que tenho de contatos influentes (na política, na imprensa, na universidade e etc.) e não por que serei bem vindo nesta nova Cidade que se anuncia grandiosa, pródiga e promissora para quem pode pagar (caro) por ela. Ainda que ela tenha vista para a (poluída) Baía de Guanabara.

E aqui, no final da minha resposta foi só uma provocação mesmo para dizer que acho inconcebível falar de Porto Maravilha sem falar da despoluição da Baía de Guanabara. E se as três esferas de Poder (União, Estado e Município) estão tão afinadas, esta seria a hora de atrelarmos aos projetos de revitalização do porto uma agenda dos três poderes para a despoluição, de fato, da Baía de Guanabara.

2) As autoridades envolvidas no processo de revitalização estão ouvindo as populações atingidas?

Se você achar que ouvir é suficiente eu diria até que sim. Mas acho que apenas ouvir a população é pouco e insuficiente face uma intervenção deste porte. O que a população necessita e quer é participar ativamente dos processos e das tomadas de decisão em relação ao lugar em que se vive. Creio que quem sabe o que é melhor para o Morro da Conceição, por exemplo, são os moradores daqui e ninguém mais. Ainda que neste conjunto de moradores você encontre, e isto também é legítimo, posições antagônicas e conflitantes.

3) Qual o impacto da revitalização do Porto sob o Morro da Conceição? Os moradores apóiam as intervenções previstas para o bairro? Acredita que o conjunto arquitetônico será respeitado? Teme que o Morro da Conceição sofra o crescimento desordenado vivido no bairro da Lapa?

Recentemente eu escrevi um artigo intitulado “Revitalização do Porto, IPHAN e Políticas Culturais no Morro da Conceição”. Este artigo foi escrito a quatro mãos juntamente com um vizinho meu que é o antropólogo e professor, Tomas Martin Ossowicki. Creio que a resposta para estas perguntas estão totalmente desenvolvidas no referido artigo que foi publicado em vários veículos. E o mais curioso é que conseguimos coletar dezenas de assinaturas de moradores que concordaram plenamente com o que foi exposto no nosso artigo. Segue um dos links onde ele está também publicado:www.vitruvius.com.br

4) Sabemos que há planos de instalação de um retroporto (área para megaguindastes e contêineres) o que exige utilização de grandes glebas de terra. Em 2007, já foram removidas dezenas de barracos que se encontravam no trajeto da alça viária que desviará o tráfego de carretas para o novo Porto. Acredita que a revitalização incorrerá em remoção da população que reside na região?

Sim. Não tenho dúvidas quanto a isto. O Projeto Porto Maravilha tem, evidentemente, facetas ainda não muito explícitas de um projeto civilizatório e higienista, infelizmente.

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Dando continuidade à nossa análise sobre o projeto da Prefeitura para revitalização da Zona Portuária da Cidade do Rio de Janeiro, vamos conhecer algumas das primeiras intervenções a serem implementadas. De acordo a Prefeitura, o projeto Porto Maravilha está previsto para ocorrer em duas fases. A primeira seria toda bancada pelo Poder Público e constaria de uma série de intervenções de reurbanização, embelezamento e adaptação de mobiliário urbano ao longo dos principais corredores viários, da Praça e do Pier Mauá. Na figura abaixo, vê-se uma das artes gráficas disponibilizadas pela Prefeitura, onde se percebe nitidamente a abrangência territorial das primeiras intervenções no Centro.
Porto Obras Fase 1

– Nos documentos oficiais, estão previstas:

– Urbanização do Pier Mauá;

– Revitalização da Praça Mauá;

– Calçamento, iluminação pública, drenagem e arborização dos eixos Barão de Tefé, Camerino, Venezuela, Rodrigues Alves e Sacadura Cabral;

– Implantação do trecho inicial do Binário do Porto;

– Reurbanização do Morro da Conceição (vias locais, enterramento de rede elétrica, restauração de patrimônio histórico – Jardim do Valongo e Pedra do Sal);

– Demolição da alça de subida do viaduto da perimetral.

Segundo seus representantes, a princípio, o investimento da Prefeitura seria de aproximadamente R$200 milhões. A figura abaixo dá uma vaga noção do que se pretende fazer.

porto antes e depois

Mas nem tudo são calçadas bonitas e palmeiras imperiais. Em primeiro lugar, nos preocupa o fato de que, junto com as obras físicas de inquestionável necessidade – mas que poderiam ser muito mais efetivas se a população fosse ouvida antes dos gênios do planejamento iniciarem seus rabiscos –, serão estimulados novos usos e atividades na região, além da intensificação de usos e atividades já existentes, a contra-gosto de boa parte dos moradores da área.

Por exemplo, a instalação de um pólo gastronômico e de entretenimento nas imediações do Morro da Conceição certamente levará a região a um processo muito parecido com o que hoje ocorre na Lapa. Uma profusão de restaurantes, boates, casas noturnas e outras atividades que, por sua vez, vão atrair um fluxo muito maior de pessoas, carros, barulhos, situações e odores indesejados. Seus impactos levarão, certamente, ao desmantelamento do caráter bucólico e do clima de bairro suburbano do Morro da Conceição, causando a hipervalorização de algumas partes e a desvalorização de outras.

Mas o mais grave é o fato – muito pouco esclarecido, afinal – de que além das obras na região mais central da Cidade, a fase 1 prevê uma série de intervenções na reestruturação das funções portuárias da área do Caju. O porto do Rio será redimensionado para o atendimento de passageiros (novos terminais próximos ao Pier Mauá) e de cargas gerais (aquelas transportadas em contêineres) no trecho final, próximo à subida da Ponte Rio-Niterói.
Para tornar a área de cargas mais eficiente, o tráfego de carretas que hoje passa por toda a Avenida Brasil vai ser desviado por uma nova ligação, passando por baixo da Linha Vermelha, cruzando todo o bairro do Caju.
É sabido que, para o bom funcionamento dos portos mais modernos, é preciso uma grande área (o chamado retroporto) onde são instalados os megaguindastes e os campos de empilhamento dos contêineres. Ou seja, grandes glebas de terra são necessárias para viabilizar a infraestrutura portuária. E é aí que vemos algumas grandes coincidências:

A tal alça viária que desviará o tráfego de carretas para o Porto passará exatamente no local onde, em 2007, a Secretaria do Ambiente, sob o argumento de “proteger” e “recuperar” as margens do Canal do Cunha, removeu dezenas de barracos de pessoas pobres que moravam ali há vários anos. Temos notícias de que a grande maioria daquelas famílias não recebeu qualquer assistência por parte do Governo do Estado e as que receberam foram parar em conjuntos “habitacionais” nos confins da Cidade. Outra infeliz coincidência é que, também no trajeto da tal alça viária, um incêndio matou duas crianças numa favela que havia se instalado embaixo da Linha Vermelha, e logo depois, todos os moradores foram removidos – não se sabe pra onde…
Porto Caju
Mas, talvez, a pior das “coincidências” ainda está por vir. O bairro do Caju é o 111º no ranking do IDH, entre os quase 150 bairros da Cidade. Por ali, moram mais de 17.000 pessoas, sendo a grande maioria em oito favelas espalhadas por todo o bairro. Nos últimos meses, temos vistos um claro movimento do Poder Público nos sentido de esvaziar ainda mais esse bairro em termos de serviços à população.

O Hospital São Sebastião era referência no tratamento de doenças infecto-contagiosas, além de um dos poucos equipamentos de saúde que a população do Caju e adjacências podia contar no caso de pequenas emergências e serviços ambulatoriais. Sem mais nem menos, o Governo do Estado encerrou as atividades desse hospital, deixando servidores desconcertados e uma população ainda mais carente.

Mais recentemente, tivemos notícia de que até o Posto de Policiamento Comunitário estava para ser removido dali. Está claro que a intenção do Governo é tornar a situação ainda mais insuportáveis para aquela sofrida população, de modo que se justifiquem grandes operações de remoção num futuro próximo, e seja aberta a possibilidade de implantação do tal retroporto.

Para dar conta de tanto descaso, só um amplo processo de mobilização popular e pressão sobre o governo estadual e sobre a prefeitura. A participação popular não deve ser vista como mero “oba oba” numa já questionável democracia. Ou tomamos as rédeas do nosso destino, enquanto povo unido e organizado, ou seremos sempre esmagados pela lógica da segregação, da privatização e do desprezo de nossos governantes e seus sócios nas grandes corporações.

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Enquete

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O projeto Porto Maravilha vem se notabilizando por uma nova modalidade de obscurantismo, no que tange à transparência das informações e à razoabilidade do processo de planejamento e implementação. Primeiro, o projeto “cai de pára-quedas” na Câmara Municipal, durante o recesso parlamentar, já com “tudo” definido em portfólios muito bem montados, computação gráfica de última geração e um conjunto de promessas de intervenções que nem o mais conservador morador da região teria coragem de rejeitar.

Depois, uma sucessão de rápidas e confusas oficinas, audiências públicas realizadas no BNDES, na Câmara dos Vereadores e até em algumas localidades da própria região, quando os representantes da Prefeitura e seus aliados no Legislativo conseguiram juntar centenas de pessoas, realizar horas e horas de debates e apresentações, e todo mundo saiu sem entender muita coisa do que realmente acontecerá. Esse é o obscurantismo do Século XXI: uma enxurrada de informações desconexas, que não apresentam, de fato, o que interessa à nossa população e, pior, acobertam as estratégias mais escusas e nefastas dos nossos governantes em conluio absoluto com os grandes dirigentes do mercado de capitais e imobiliário.

Os três projetos de lei enviados pelo Executivo municipal foram pouco ou nada tratados nas diversas reuniões para discussão do assunto. Quando provocados, os representantes da Prefeitura mentiram deslavadamente. Por tudo isso, não nos furtamos a apresentar o maior número de emendas possível, com vistas até a adaptar o que diziam os nossos benfeitores-com-cara-de-paisagem ao que realmente está proposto nos tais projetos de lei. Os projetos de lei enviados são o principal ato da Prefeitura para montar uma base legal que viabilize suas intervenções na região do Porto. Os projetos cumprem diversos objetivos. Veja uma síntese das propostas:

Projeto de Lei Complementar 25/2009:

– Inscreve o instrumento da Operação Urbana Consorciada no Plano Diretor de 1992 (Isso mesmo! O plano que está, nesse momento, sendo “revisto” na própria Câmara Municipal!);

– Institui a Área de Especial Interesse Urbanístico e a Operação Urbana Consorciada do Porto do Rio, que são o limite territorial onde as intervenções vão ocorrer;

– Define e já aprova o “plano” da OUC do Porto, um conjunto de ações do poder público na área, que, combinado aos demais projetos de lei, ficará, em sua maioria, a cargo da CDURP, a empresa a ser criada para gerenciar todo o projeto;

– Regulamenta a utilização dos CEPACs, o instrumento que promove o casamento definitivo da especulação imobiliária mais tradicional, com o frenesi dos mercados financeiros, algo bem parecido com os títulos “sub-prime” que levaram a economia dos Estados Unidos à bancarrota no final do ano passado;

– Explode os limites e parâmetros construtivos para a região, possibilitando a instalação de prédios de até 30 andares em alguns setores e até 50 andares em outros;

-Cria um conselho consultivo que chega a ser uma ofensa para quem realmente acredita na participação pública como esteio de uma nova política urbana, mais justa e menos segregacionista. Um conselho composto por apenas cinco membros, sendo um coordenador da CDURP, dois representantes do Município e dois representantes da sociedade civil escolhidos pelos três primeiros!

O Projeto de Lei Complementar 26/2009 cria a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio, a CDURP, que será a gerenciadora das principais intervenções e a parceira privilegiada dos principais empreendimentos a serem instalados na região do Porto. O projeto indica que a CDURP será uma companhia de economia mista, a ser gerida pelos princípios da governança corporativa e seu capital será aberto através da emissão de ações ordinárias e preferenciais.

Isso significa, na prática, que, por mais que o Poder Público Municipal tenha o controle acionário majoritário e um certo poder de indicar os membros da diretoria dessa futura empresa, sua lógica de atuação, suas necessidades de desempenho serão as mesmas das grandes empresas privadas, logo, muito distantes do interesse público.

Uma empresa criada e preparada para dar lucro jamais terá condições de dedicar-se a ações que efetivamente garantam melhorias para a população como um todo, muito menos para a população de baixa renda que é maioria na região do Porto. Afora tudo isso, o projeto repassa a essa empresa todos os direitos e prerrogativas do Poder Público no que tange a serviços essenciais tais como paisagismo, limpeza urbana, coleta de resíduos sólidos, drenagem de águas pluviais, iluminação pública e conservação de logradouros e de equipamentos urbanos e comunitários, dentre outros. Trata-se da mais pura e absoluta privatização do espaço público!!

Finalmente, o PL 260/2009 dá isenção total do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis “intervivos” (ITBI) para todos os empreendimentos que estiverem sob os auspícios da CDURP. Ou seja, como o CEPAC é um instrumento que só captura uma pequena parte da renda da terra, e essa parca verba deve ser aplicada única e exclusivamente na região da Operação, os últimos instrumentos que o Poder Público teria para se capitalizar na região e arrecadar recursos novos a serem distribuídos pelo resto da cidade seriam exatamente o IPTU e o ITBI. Mas o Prefeito nos faz o “favor” de dar isenção total de ambos para a CDURP!!

Enfim, diante de um quadro tão desalentador, e de prazos absolutamente exíguos para a análise criteriosa dos projetos e para a elaboração de emendas, conseguimos elaborar apenas 16 propostas para o PLC 25 e 5 para o PLC 26. Para o PL 260, nos caberá “apenas e tão somente” denunciá-lo por todos os meios e votar contrariamente a tal absurda proposta!

No PLC 25/2009, nossas emendas buscaram, prioritariamente:

– Retirar o caráter elitista do Projeto, que segregava as habitações de interesse social para apenas dois Setores da AEIU do Porto, próximos ao morro da Providència, e garantir que todos os empreendimentos residenciais de grande porte tenham um percentual mínimo de habitações voltadas para a classe média-baixa e baixa;

– Garantir um tamanho mínimo para tais habitações de interesse social, que garantam um mínimo de dignidade às famílias que ali vierem a residir;

– Reconhecer a presença e a memória das comunidades tradicionais, principalmente o Quilombo urbano da Pedra do Sal;

– Garantir a realização de um grande Estudo de Impacto de Vizinhança para toda a Operação Urbana Consorciada do Porto, como determina a legislação federal, e também Relatórios de Impacto de Vizinhança específicos para os principais empreendimentos e intervenções;

– Garantir a participação efetiva dos moradores na operação, através da instalação do Conselho do Porto, com representação paritária e caráter deliberativo para os principais aspectos e intervenções a serem realizadas na região.

No PLC 26/2009, que cria a CDURP, resolvemos incluir, no texto da lei, as próprias declarações do secretário municipal de Desenvolvimento, Felipe Góes, que insistiu em afirmar a condição de “empresa pública” da CDURP. Assim, apresentamos cinco emendas que procuraram:

– Qualificar a CDURP como empresa pública, vinculada à Secretaria Municipal de Urbanismo;
– Esclarecer melhor as atribuições e instrumentos da empresa, particularmente o caráter público da sua gestão e da sua atuação;

– Esclarecer melhor as possibilidades de integralização de capital e de gestão dos recursos da empresa, permitindo a entrada dos governos estadual e federal como parceiros desse importante órgão de controle da especulação imobiliária e do desenvolvimento efetivo e sustentável da região portuária do Rio de Janeiro.

O açodamento com que a Prefeitura e a sua base de vereadores tem tratado a tramitação desses projetos na Câmara Municipal causa espanto. Em poucas semanas, os projetos já receberam pareceres favoráveis e o PLC 25/2009 já foi aprovado em primeira discussão, apenas alguns dias foram disponibilizados para apresentação de emendas. Por isso, muitas mudanças que gostaríamos de propor ao projeto não puderam ser apresentadas. Não conseguimos, por exemplo, apresentar uma redução nas propostas de adensamento construtivo, que demandaria a feitura de novos mapas, anexos e planilhas – materiais que não podem ser feitos de qualquer jeito e demandariam muito mais tempo, estudos e discussões com a população.

Nos próximos posts, tentaremos avaliar os impactos reais das diversas mudanças que conseguimos identificar até agora, nos materiais publicitários da Prefeitura, e que vão atingir diretamente os moradores do Morro da Conceição (Fase 1) e de toda a região da Saúde, Gamboa e Santo Cristo (Fase 2). Também tentaremos demonstrar como o CEPAC é um instrumento que não atende às necessidades de uma cidade para todos, uma cidade justa, sustentável e confortável para todos os seus habitantes.

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icone-urbanismoPara nós, já está claro: o projeto Porto Maravilha é um conjunto de intervenções urbanísticas e legais com o intuito de criar um enclave territorial caracterizado pela verticalização, adensamento populacional e de atividades, além da especialização em serviços administrativos e outras funções urbanas ligadas ao processo de reindustrialização da região metropolitana do Rio de Janeiro.

A região metropolitana está vivenciando um momento sem precedentes em termos de investimentos em grandes projetos de infra-estrutura (arco rodoviário, trem bala, PAC, etc.) e plantas industriais (COMPERJ, pólos gás-químico e siderúrgico, além da repotencialização da Reduc). Toda essa estrutura produtiva, para além do caos sócio-ambiental que certamente trará para nosso Estado, provocará uma explosão de demanda por serviços voltados para tais corporações e firmas. Some-se a isso a perspectiva de grandes espetáculos na área do esporte (Copa do Mundo e, talvez, Olimpíadas). As áreas do turismo e do entretenimento também são apontadas como vetores desse novo pulso de crescimento econômico, a partir da próxima década.

No caso específico do Porto Maravilha, o grande problema é que tal projeto recupera e institucionaliza a visão de “Planejamento Estratégico” iniciada em meados dos anos 90, na malfadada gestão Cesar Maia. O ideário da privatização é retomado com muita força, em detrimento de um sistema de planejamento participativo, universalizante, e pautado pela captura ou controle das rendas da terra pelo Poder Público visando a distribuição equitativa dos serviços e bens públicos por toda a cidade.

Abrangendo integralmente os bairros do Caju, Santo Cristo, Gamboa e Saúde – além de partes do Centro, Cidade Nova e São Cristóvão – o projeto Porto Maravilha atingirá a vida de milhares de famílias, numa das áreas mais empobrecidas e esquecidas pelo Poder Público. Os governos federal e estadual são os grandes proprietários de terras urbanas na área do Porto, mas a maior parte desses imóveis está abandonada há vários anos, descumprindo a sua função social. Pelas análises preliminares dos parcos documentos e informações confiáveis disponibilizadas pela Prefeitura, constatamos que há grandes riscos para os vários segmentos sociais ali residentes e para a cidade como um todo.

Para os mais pobres: risco de remoções sumárias bem ao estilo “Choque de Ordem”, que, pela violência, crueldade e indeterminação jurídica de suas operações mais parecem ações das fasci di combatimento do início dos anos 30 – os grupos paramilitares organizados na Italia no governo de Benito Mussolini, principal líder do Fascismo.

Para a classe média residente, principalmente, no Morro da Conceição: risco de perder o principal elemento de qualidade de vida na área, ou seja, o caráter bucólico, de perfil quase suburbano, de paz e tranqüilidade,a ser substituído pelo agito de inúmeras casas de espetáculo, restaurantes voltados para a classe média alta, gerando grande tráfego de veículos, poluição sonora e atmosférica, além de problemas de segurança típicos destas áreas.

Para a cidade como um todo: risco de aumento nos engarrafamentos, uma vez que uma das principais intervenções do projeto é exatamente a substituição do elevado da Perimetral e da Avenida Rodrigues Alves por um mergulhão, semelhante ao da Praça XV, que certamente não servirá para o escoamento do tráfego que ali passa todos os dias.

Nos próximos posts, refinaremos a análise detalhando as duas fases já divulgadas e os instrumentos legais que são criados pelos projetos de lei do Executivo que estão na pauta de votação da Câmara do Rio.

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